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terça-feira, 11 de abril de 2017

Ecossistema alterado

Desde que me mudei para o Rio grande do Sul, comecei a "colecionar" os pássaros, borboletas, insetos e outros animais da região. Eu conhecia bem o ecossistema do Rio de Janeiro, especialmente no alto da serra porque morava em Petrópolis. Atrás da minha casa tinha um pequeno bosque que constava de um enorme bambuzal, alguns pinheiros e muitas árvores da mata atlântica.Com a mudança reparei que alguns pássaros não veria mais. Entretanto, outros começaram a fazer parte da minha nova coleção, além das árvores e flores diversas.
 Nova Petrópolis onde moro atualmente, também é uma cidade serrana. Considerada o jardim da serra gaúcha, vemos flores diversas por todos os lados. Sem dúvida é uma joia em meio a serra, bem cuidada e mantida pelos moradores com floreiras em suas casas ou apartamentos.
No entanto, a preocupação com o ecossistema não é uma característica natural, especialmente das pessoas simples desalojadas do seu habitat. É preciso ter um aprendizado, ser instruído nas noções de importância de preservação, manutenção, conservação e etc. Não faz parte da nossa cultura, infelizmente, pensar assim. Pensamos no projeto, na aquisição, na novidade, mas esquecemos o fator tempo a médio e longo prazo. Não conservamos; trocamos. Não preservamos; derrubamos. Não mantemos; destruímos. Não consertamos mais; descartamos para o lixo! O novo é febre em todo lugar. Temos mania de novidade e passamos a odiar as coisas velhas, o antigo, bem de acordo com a noção de povo sem memória. O passado nunca nos interessou e não será agora. Com a tecnologia avançando, o que tem cinco anos já está obsoleto; dez anos passados já é vintage!
Voltemos à minha coleção. Mudando para a nova cidade, não pude morar numa casa. Tive que me contentar com um apartamento. Mas como tenho duas varandas, não me incomodei muito. Na lateral, havia (e há) um quintal bem do feitio brasileiro. Da minha varanda eu curtia - quatro pinheiros, um abacateiro, duas outras frutíferas (bergamoteiras, se não me engano) e uma árvore que ainda não consegui encontrar o nome e que a maioria das pessoas chama de árvore, apenas!
Assim sendo, muitos pássaros me visitavam e comecei a "colecioná-los", notando a diferença entre as duas regiões. Encontrei velhos conhecidos que habitam a mata Atlântica de uma forma geral e outros mais característicos do sul. Entre os velhos conhecidos estão: bem-te-vi, sanhaço, sabiá laranjeira, pardal, sebinho, pica-pau, joão de barro, cambaxirra, canário da serra, andorinha, gavião, falcão-peregrino, beija-flor (diversos), pombas e alguns da família dos psitacídeos.
Comecei a ver algumas diferenças: O pica-pau não tinha mais a cabeça vermelha, era de outro tipo. Conheci a gralha azul e o quero-quero, símbolos do RS. Vieram também, andorinhas diferentes, papa-moscas, cardeal, tucano de bico verde, tesourinha e o 'invasor" ibis preto. Isso sem falar das aves migratórias e das barulhentas maritacas.
Todavia, a felicidade da minha coleção crescente durou pouco, pois começaram a derrubar as árvores da cidade. As podas são feitas de qualquer maneira e pinheiros são derrubados com a desculpa de que não servem para nada. Até mesmo a Araucária vem sofrendo desta crítica. Muitos se incomodam com a "sujeira" que elas produzem no chão e esquecem tudo mais que as árvores nos proporcionam, junto com sua fauna específica. Há árvores que são verdadeiros criadouros de espécies. Insetos são necessários, besouros, borboletas e outros tantos que alimentam pássaros que cantam e que semeiam outras árvores. Abelhas circulam nesses meios. Enfim, tudo se equilibra para um funcionamento perfeito, belo e harmonioso. O clima depende dessa harmonia.
Hoje, não tenho mais os pinheiros, as frutíferas nem a araucária. Só me restou a foto deles. Prédios estão surgindo no lugar - cimento e concreto. Não sou contra o crescimento e desenvolvimento urbano, mas porque não acrescentar ao projeto arquitetônico as árvores, incluindo banquinhos, pequenas áreas verdes e de lazer?
E pensando nisso, ando muito preocupada com alguns plátanos da cidade, especialmente em praças. Estão doentes e mal cuidados. Cheios de ervas daninhas - trepadeiras perigosas - e lixo em seus caules e raízes. E como na visão das pessoas eles só sujam, especialmente quando chega o outono e inverno, não vou me espantar se um dia arrancarem todos, o que seria uma perda inestimável para nós seres humanos, animais em geral e plantas; enfim, para toda natureza. A cidade já sofreu uma grande perda, pois há alguns anos, um quarteirão inteiro foi desmatado, incluindo araucárias, pinheiros, eucaliptos e outras espécies para dar lugar a um caixote de concreto que nem shopping é - duas  grandes lojas âncora e alguns espaços para pequenas lojinhas, mais nada. Nem mesmo a madeira foi aproveitada!
No fim, eu que vim de fora, urbana e culta sou discriminada e não sou ouvida. Fico triste porque eles não sabem o que perderão num futuro próximo. E quando as chuvas torrenciais vierem, os tufões e as enchentes, vão colocar a culpa no aquecimento global provocado longe daqui. Acusarão fábricas e vacas de mudarem o clima, mas nunca olharão para si mesmos, para sua parcela de culpa, para seus atos inconsequentes. É mais fácil estender o dedo, olhar bem longe e culpar quem nem conheço, apoiado pelas mídias que fazem a mesma coisa, do que fazer o mea-culpa. O problema nunca está aqui; ele vive alhures!

"colecionar" = tirar fotos e guardar em álbuns dentro do computador para ver em forma de slides eventualmente.

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